
No cinza das cidades caóticas, entre outdoors, cartazes (escritos por iletrado), carros de som e locutores de lojas com suas vozes graves e textos de uma intimidade forçada, nasce uma nova profissão, a gritadeira.
Quem nunca ouviu, atordoado pelo agudo que rasga o tímpano e fere o transeunte mais desavisado, algo como:
"Compro ouro"
"Salão. Corta e lava, escova é grátis"
"Compra, troca e desbloqueia celular"
A cada grito dessa sinfonia incessante maior minha curiosidade. Quanto vale o grito? Cobra-se por hora, volume? Será que são aceitos quaisquer tipos de serviços?
Já imaginou uma declaração de amor gritada aos quatro cantos? Uma reza para um enfermo no amanhecer. Berros notificando um nascimento ou um falecimento. E melhor ainda: uma cobrança gritada.
Ah, como falta espírito empreendedor as gritadeiras de nossos centros urbanos.
Uma gama de serviços a oferecer. De declarações de amor a barracos encomendados.
Já antevejo sua divulgação: "Nós gritamos suas mensagens em qualquer lugar a qualquer hora". ou "Gritos: por que você merece".
Num mundo onde tudo parece banal nada me parece impossível.
M.L.M
Nenhum comentário:
Postar um comentário